quarta-feira, 4 de abril de 2012

Carta aberta ao meu filho (que desta vez não vou enviar)



Pululam pela blogosfera mães a falar das maravilhas da maternidade, da tamanha alegria e felicidade que é termos um ser a crescer dentro de nós e darmos vida a um rebento a quem amamos loucamente, infinitamente....
Concordo plenamente com todas e eu própria já passei por isso 2 vezes.
Infelizmente, neste momento vivo uma realidade bem diferente....

Pergunto-me todos os dias o que foi que aconteceu e quando aconteceu.
Em que altura das nossas vidas conviver se tornou um inferno, uma batalha campal diária?
Um filho tão desejado, um bebé tão amado, uma criança tão protegida e querida por todos...

Passei horas a ver-te dormir, noites a ouvir-te respirar, dias a ver-te brincar.
Muito cedo revelas-te uma grande inteligência capaz de gerir uma enorme rebeldia e irreverência e capaz de manipular todos à tua volta, cedo fomos tendo de enfrentar adversidades, problemas de saúde que tiveste, desajustes de comportamento, atitudes a que, estes pais inexperientes, foram tentando adaptar-se.

De alguma forma, e eu falo por mim, errei nas minhas atitudes e decisões, pois agora, tu com 18 e eu com 45, parecemos o cão e o gato, os nossos dias são um inferno, discutindo o dia todo.
Não sei porque não consegues de todo entender que deves respeito aos teus pais e tens de seguir algumas regras básicas. Uma pessoa que não tem meios de subsistir sozinho e vive com 3 outras pessoas, tem de respeitar.
Regras ou leis, para ti não existem, achas ter o direito de mandar em todos, ofendes, manipulas, desafias, magoas, exiges sem nunca dar nada em troca, viras-te à mãe, queres bater no irmão, ralhas com o pai, entras e sais quando queres,  refilas com a comida, refilas com tudo e pedes dinheiro, sempre o dinheiro.
E ainda dizes que um dia te vais vingar de nós, de todo o mal que te fazemos...

Mas estás a falar do quê???

Do amor incondicional que temos por ti?
De tudo o que desculpamos só porque sim?
De tudo o que damos sem mereceres?
Das coisas que teimamos em ensinar-te?

Estou esgotada!
Sinto-me cansada, sinto-me vazia...
Acima de tudo sinto-me triste, muito triste...
Triste por desejar que saias de casa e vás à tua vida para que tenhamos um pouco de paz, triste porque não consigo dar a volta a esta situação, triste por já duvidar do meu amor incondicional, que tu tens vindo a matar aos poucos.
Triste porque tenho outro filho e nem sempre tenho condições de lhe dar atenção por tua causa.
Triste por não saber o que fazer....

Sonho com o dia em que pedimos desculpa um ao outro e fica tudo bem, 
Sonho com o dia em que deixas de olhar para mim com esses olhos cheios de ódio e me abraças,
Sonho com o dia em que vamos os dois passear e rimos e brincamos um com o outro, como quando tu eras pequenino e vinhas ter à minha cama e ficávamos abraçados assim durante toda a noite....

Já tomei esta atitude mil vezes, já tentei de tudo, já compreendi, já desculpei, já ultrapassei, já pus mil pedras em cima de ofensas....
Agora não posso mais, não acredito mais, não quero mais...

E isto dói...
Dói demais....



7 comentários:

  1. Lamento ouvir estas palavras....Tens vivido um dos receios que sempre tive. Olho para a minha pequena rebelde e tenho medo do que está por vir.

    Espero realmente que consigam mudar...e que depressa ele encontre a paz e compreensao que necessita para ver tudo que voces significam na vida dele. E que rapidamente reencontres o teu filho que dormia no teu abraço

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  2. Não tenho filhos, não conheço "as maravilhas da maternidade", mas conheço de perto - muito perto - uma situação parecida com a tua, e sei o quanto dói! É uma ferida aberta mas que, com o tempo, cicatrizará... no entanto a cicatriz não desaparece, estará sempre presente...

    Mas, minha querida, o que não tem remédio, remediado está!

    FORÇA! MUITA FORÇA!

    Uma turrinha da GATA!

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  3. Oh Gaja... fico tão triste ao ler este post... porque raio um ser que faz parte de nós nos há-de tratar assim... fico triste muito triste que estejas a passar por isto. Ele já não está propriamente na flor da adolescência, daqui a pouco é um jovem adulto, tem de mudar de atitudes, caso contrário ainda se virá a arrepender, a vida se encarregará disso.
    Beijinho minha querida!

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  4. Situação muito triste e difícil esta. Desejo do fundo do coração que tudo se resolva pelo bem o mais rápido possível!

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  5. Lamento estares a passar por isso.

    Não sei o que isso é, não tenho filhos, não posso avaliar a tua dor. Mas deve ser a situação mais complicada de ultrapassar ver o nosso próprio filho virar-se a nós...

    Muita força! As coisas hão-de recompor-se!

    Beijinhos e um xi apertadinho.

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  6. Muito obrigada a todas pelas vossas palavras e pela força.
    Isto é uma situação que persiste há algum tempo (anos até) e que eu aguardo ansiosamente que passe com a idade adulta dele, mas só tem vindo a piorar e há momentos em que desespero... acabo por me culpar e martirizar porque sinto que de alguma forma falhei na transmissão de valores...
    Mas isto vai, uma dia de cada vez a ver o que é que dá...
    Obrigada mesmo amigas! :)

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  7. Gaja MAria,
    Só te posso dizer que I Know the feeling.
    Escrevi este post há quase 2 anos (http://bolinhoscomohobbie.blogspot.pt/2010/11/viver-com-uma-crianca-hiperactiva.html )

    A minha filha mais velha tem quase 13 anos e sempre foi muito dificil de criar.
    Quando li as tuas palavras revi-me nelas. E fiquei comovida.
    Só te posso dizer que partilho a mesma "dor" que tu.

    Beijinho muito grande.

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