terça-feira, 28 de março de 2017

Nunca é tarde

Foi quando o cinzento se apoderou dos meus dias e da minha vida, foi quando os meus filhos cresceram e ficaram independentes não querendo mais uma mãe galinha atrás deles, foi quando os meus amigos estavam ocupados, foi quando me sentia só. Foi quando os meus dias ficaram vazios e o meu tempo enorme, tão enorme que não sabia o que fazer com ele. Perdi-me, tentei achar-me, voltei a perder-me e o meu barco andou à deriva num mar revolto por algum tempo. Peguei porém no leme e tentei reajustá-lo. E reajustei-o pois foi aos quarenta e quatro anos que descobri uma nova paixão. E desde então que não paro de crescer e de aprender e de concretizar sonhos....


domingo, 26 de março de 2017

Vulnerabilidade

Olho para esta página em branco e vejo-a nua tal como me vi a mim um dia destes, nua no corpo e na alma, despida de tudo e de nada, como quem sobe ao púlpito e perante uma imensa plateia se lhe varrem as palavras. Ouvi as instruções que já conheço de cor, resignada e convencendo-me que há coisas de que não gostamos mas temos de fazer para o nosso próprio bem. E enquanto a máquina me apertava e espalmava as mamas, eu nua, percorria a plateia com os olhos à procura de um sorriso ou uma palavra de incentivo. Elas vieram, que um bom profissional sabe fazer bem o seu trabalho, mas não foi por isso que deixei de me sentir vulnerável e insegura, nua de roupa e de alma. Da plateia trouxe um "sim, está tudo bem". E uma constipação.

sábado, 25 de março de 2017

Há dias em que não sei o que é que sei. Mas de todas as coisas que não sei que sei, uma eu sei. A vida tanto tem de maravilhosa como de fodida.

Ramalhete




Dizem que é primavera mas as bátegas de água tocadas a vento embatiam nas minhas janelas. O frio gelado entrava por baixo da porta e eu quase tremia de frio. A pedalada não aconteceu. Não fui ver o mar, não fui até à serra, não me embrenhei pelos pinhais adentro neste momento prenhes de água. Sentindo-me presa, fechada e sem ar fui até ao quintal de Mamãe ver as camélias. Todas caídas no chão. As laranjas também assim como muitos botões de flores que entretanto haviam de desabrochar. O quintal estava cinzento e triste. Tal como eu. Um gato desconhecido e felpudo dormia enroscado debaixo do telheiro, um casal de melros namoriscava em cima da cerca. Tudo à espera... Fiquei gelada, colhi apenas um ramalhete de salsa e coentros para o jantar e corri para casa também eu à espera. Da primavera.

segunda-feira, 20 de março de 2017

A minha chave

Trago comigo uma chave. Esta chave abre e fecha gavetas todos os dias da minha vida. Hoje peguei nela cuidadosamente e abri a gaveta que fica à minha esquerda, coloquei lá o mau humor e a melancolia que esta primavera cinzenta me trouxe e tirei o meu melhor sorriso. Abri de seguida a que estava logo acima e coloquei lá os problemas e os contratempos, tirei a alegria que embora um pouco envergonhada anda aqui a rondar. Guardei a chave para amanhã.

domingo, 19 de março de 2017

Alinhar os chakras

Não sei o que raio é isso dos chakras mas que anda por aqui alguma coisa desalinhada lá isso anda. Foi por isso que aceitei mais um desafio, caminhada de 16 kms pela Fórnea, mesmo ao lado de Porto de Mós na Serra de Aire e Candeeiros no intuito de dar ar à alma e ao corpo e repor energias. 
Já perdi a conta às vezes que lá fui de bike mas a pé foi a primeira vez e não me arrependi nem um pouco, consegui até correr em algumas subidas. Descer é que foi o caraças, acho que me vão cair as unhas dos pés de ir todo o caminho a travar. A serra estava linda como sempre, já cheia de flores e cheirinho a primavera, pena o nevoeiro que não deixava ver muito longe.
Dos chakras não sei, só sei que ainda assim espero que tenham encontrado alinhamento e deixem de me acontecer "cenas" esquisitas.







sexta-feira, 17 de março de 2017

Rei morto, rei posto

Pois tenho a dizer-vos que o meu anjo Gabriel foi um anjo mas não  foi anjo suficiente para me salvar o ecrã do telemóvel que além  do padrão tigresa deixou de funcionar em certas zonas.  Continua deitadinho em cama de arroz para o caso de lhe querer passar. Entretanto já fui comprar outra vida que isto de viver sem vida não é vida.  Vou no entanto manter-me afastada de sanitas.  
Beijinhos e abraços

quarta-feira, 15 de março de 2017

terça-feira, 14 de março de 2017

Haveria de chegar o dia

Em que via a minha vida cair pela sanita abaixo. O telemóvel pois claro...
Depois de o pescar, envolvi-o em papel e corri à procura de ajuda. Salvou-o e Engenheiro Gabriel e não é por acaso o nome de anjo. Abriu-lhe o coração com muito jeitinho, deu-lhe com o desfribrilhador, injetou-lhe um produto para proteção da parte eletrónica, secou-o muito bem sequinho, ressuscitou. Um pouco periclitante ainda, continua a lutar pela vida cheio de tremuras e nervoso miudinho. Tenho agora um écran com padrão tigresa, coisa mai linda. 
Descansa numa taça de arroz, a ver se lhe passa.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Filhos que podiam ser os meus

Dou por mim a pensar como os meus dois pintainhos, hoje já belos e espigados frangotes, são tão diferentes um do outro.
Qual mãe galinha, sei que a partir do momento em que se choca um ovo, é-se responsável por ele e posso dizer que os choquei da mesma forma, que o ninho era igualmente, quente, fofo, cheio de amor e muito bem estruturado e que em todo o galinheiro não houve uma galinha ou um galo que os tivesse tratado de maneira diferente. São no entanto e apesar das parecenças físicas, pessoas com atitudes e perspetivas de vida completamente distintas, não querendo com isto obviamente dizer, julgar ou criticar as mesmas. Ser diferente não é ser mau ou ser bom.
Aflora-se-me no entanto uma dúvida, uma questão que sempre se me coloca quando oiço certas conversas, presencio certas coisas e vejo certas notícias, questão esta que me tem acompanhado como se de um karma se tratasse, como se uma cruz de assumidora de culpas tivesse sido inscrita na minha testa desde que decidi chocar dois ovos. Será que quando os granfotes partem um ovo, a culpa é sempre e só dos pais?

domingo, 12 de março de 2017

Olho o espelho e vejo-me demoradamente. 
Todos os dias me vejo e me reconheço e gosto ainda de me ver acabada de acordar. Gosto. 
Gosto quase todos os dias de mim.
É no entanto quando tenho tempo e me detenho em frente ao espelho, quando me olho demoradamente e com calma que vejo como o tempo tem passado por mim, este tempo que não pára, este tempo que não tem tempo de parar um pouco e esperar por mim.
Vejo umas pálpebras a ficarem descaídas outrora esticadas e lisas onde o eyeliner ficava perfeitamente desenhado, umas rugas ao pé dos olhos e da boca que escondem agora a sombra e o batom.  Vejo umas mãos brancas e com manchas, uma pela baça e cansada outrora coberta de sardas de que tanto me orgulhava, um ventre mole, uns ombros escanzelados, umas pernas finas. Sim, esta sou eu, aquela de quem gosto quase todos os dias. É quando tenho mais tempo que gosto menos de mim...


P.S. Vou trocar de espelho :)

quinta-feira, 9 de março de 2017

Clone

Tentei uma vez
No site do IMTT on line renovar a carta de condução. Fácil, barato e cómodo. Não tive sucesso, dava erro nos meus documentos e não conseguia avançar.
Tentei outra vez
Numa agência documental. Caro, fácil e igualmente cómodo. Não conseguiram, havia um erro nos meus documentos, não permitia avançar.
Tentei mais uma vez cheia de convicção e vontade de estar dentro da lei.
No próprio do IMTT ao vivo e a cores. Não consegui, há um erro nos documentos.
Isto é, há euzinha e mais uma outra pessoa com o mesmo número de carta de condução que eu...
E onde é que eu vou agora? à Torre do tombo onde alguém, há trinta e um anos se enganou a registar?
Resta-me esperar que alguém consiga resolver o imbróglio e rezar para que a polícia não me mande parar e veja que a minha carta está caducada...
Ele há coisas, e esta ein?

quarta-feira, 8 de março de 2017

Celebremos

Mulheres! Sejamos felizes vá e deixem-se lá  de tretas, os homens invejosos claro, disso de ser ridículo haver um dia da mulher e de que até precisamos de assinalar o nosso  dia e bla, bla, bla whiskas saquetas. Nós  somos mesmo especiais, eu pelo menos sou e hoje até  recebi uma flor e tive direito a uma massagem no meu local de trabalho. Ein? Especial mesmo.
Partilho a minha flor com todas as mulheres especiais :)

terça-feira, 7 de março de 2017

Heranças

Ficou-me de meu pai o gosto à  natureza, ao verde, à  beleza das flores. Ficou-me o gosto de apreciar o plantar para um dia ver nascer e crescer,  coisa que ele fazia nas poucas horas vagas que tinha.
E todas as primaveras tenho o privilégio de o ver sorrir, ainda que em pensamento, de o ouvir chamar-me para me mostrar orgulhosamente o que plantou para mim, para nós. Herdei uma cerca de camélias, um caminho de narcisos amarelos que vão florir lá para  Junho,   uma pérgula de glicínias maravilhosa.  Belos. Tão,  mas tão  belos quanto ele. Um maravilhoso tesouro foi o que eu herdei

segunda-feira, 6 de março de 2017

Ao contrário

Segunda-feira, acordei. O céu apresentou-se-me branco, coberto de neblina e uma chuva miudinha caía, enfadonha, enervante. Fonix! Odeio estes dias em que não  há  céu e eu fico envolta em branco. Dá -me falta de ar, claustrofobia, é  que nem a minha janela nova me salva.
Fiz a minha rotina matinal em modo robot com gestos lentos e olhos a meia haste dando apenas especial cuidado à colocação do fio ao pescoço para a letra do meu nome não  ficar ao contrário. Saí para me envolver no nevoeiro.
Não  resultou, descobri quando cheguei ao trabalho....

quinta-feira, 2 de março de 2017

Expectante

Mostrei-lhe o caminho à direita por o saber direito e com poucas curvas. Anteviam-se-lhe algumas subidas íngremes e difíceis, outras tantas descidas perigosas, percebiam-se umas quantas zonas densas de neblina e logo ali à frente até, um céu negro e cerrado, mas ao fundo vislumbrava-se uma enorme clareira, cheia de luz e de sol, verdes prados e muitos cavalos alados. Nuvens  brancas de algodão faziam sombra aos pássaros pousados nas árvores e uma bela melodia chegava aos nossos ouvidos.
Havia porém um outro caminho, o da esquerda que para ele brilhava num chamamento doirado, coberto de uma aura de sonho e de paraíso, um caminho que aos seus olhos o poderia levar à concretização do seu objetivo. 
A mim parecia-me um caminho impossível pois logo à frente tinha uma curva e até à curva apenas pedras e mato, depois da curva nada se via. Mas o que será que haveria mesmo depois da curva??
Escolheu o caminho da esquerda...
Aguardo expectante à espera de vislumbrar o tal brilho.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Ainda não é desta

Que a palavra "desisto" vai entrar no meu vocabulário.
Correr não é a minha praia, eu gosto é de pedalar na rua em liberdade, mas os meus horários só me permitem pedalar ao fim do dia e no inverno de noite, é perigosa esta aventura. Decidi então fazer-me à estrada e correr ao sabor das luzes da cidade, sempre levo com o vento nas trombas, oiço a minha música e espaireço a alma. Mexer e deitar fora o stress é a palavra de ordem.
No primeiro dia corri sete quilómetros e no dia seguinte não me conseguia mexer. Passados alguns dias, já recuperada, tentei de novo e fui perseguida por três cães, não levava água para os afugentar e corri como se não houvesse amanhã com eles à perna, livrei-me deles por fim mas quase não conseguia chegar a casa de tão cansada. Voltei a tentar por outros caminhos, mas a meio deu-me uma tão grande vontade de fazer cocó que cheguei a pensar entrar por alguma casa adentro para pedir uma ida ao wc. Ao invés, corri até casa praticamente de pernas fechadas a encolher o senhor castanho. Numa nova tentativa, deu-me uma dor na perna que cheguei a casa a andar e coxa. Demorei dias a recuperar.
Mau! Querem ver que tenho de desistir desta ideia? Mau, mau Maria!
Hoje, não vencida ainda pelas contrariedades, esvaziei a tripa antes de sair, levei duas pedras no bolso para atirar aos cães, a perna estava boa mas fui devagarinho. Yes! Corri quase nove quilómetros, não estava nada cansada, corria outros tantos se a minha perna marota não me atraiçoasse.
Esta minha teimosia ainda me mata, mas desistir é que não.